Rua das Laranjeiras, Rio de Janeiro
Verde oliva, verde petróleo, verde limão capim da estrada, verde cor de esperanças, verde eternamente verde. Entre o verde exuberante da Mata Atlântica recortada pelas águas barrentas que dividem o Estado de Minas, do Estado do Rio Janeiro, na remota aldeia dos índios Puris, rotado ouro, dos tropeiros chegados da corte seduzidos pelos minerais preciosos; hoje, com Catedral, estação ferroviária, cinemas, escolas, museu, academias, o envelhecido hospital resistindo reconstruído, destruído em pequenos lapsos de tempo, elementos indispensáveis para crescer e multiplicar a cidade. A religião, o poder e o conhecimento.
Como Macondo – de um Cem anos de solidão, reproduz as mesmas e infindáveis estórias dentro da história. O Coronel Político, o médico, que viu todos os nascimentos, prescreveu medicamentos idênticos, a rapariga que foi entregue na manhã seguinte, pós a grande festa do casamento porque virgem não era, a louca cujos cabelos acinzentaram dentre janelas, portas cerradas aberta ao meio dia oferecendo passagem pela fresta à comida fornecida pelos vizinhos há mais de quarenta anos, o casarão amarelo, onde a criançada se atropelavam numa passada veloz, temerosos da anciã leprosa que podia contaminá-los pelo vento, do rio barrento inundado á tarde quando a companhia de luz abria as comportas, de fantasmas nas madrugadas, da casa da luz vermelha tal qual os barulhentos bordéis de Jorge Amado.
Coberta de estrelas, disputando com a lua o prateado que cobria agasalhando todo, longe do cheiro do mar, escrevi meu primeiro poema, perdido, em algum lugar do passado, usurpado das minhas mãos na sala de aula, onde a ordem era apenas ouvir ou responder se perguntado.
Raras seriam as noites de saída, estritamente proibidas. Como o imprevisível acontece, Balzac, Tolstoi, Machado de Assis deixariam a biblioteca recanto preferido e amado separando-me das paredes cheirando a terços, rezas e procissões.
Navegava pelos corredores a beleza de um certo rapaz cobiçado em sonhos e versos por jovens quase professorinhas. A curiosidade aposta na singularidade procura, remexe, indaga, investiga, vasculha, reencontra, encontra. Decidimos uma aposta. Contrassenso dos que pouco conhecem da vida. Pretexto por se não lograsse tocar o coração do galã.
Arrisquei. Se até a meia noite, como na estória da infância, não dançar comigo, deixo o páreo sem mais delongas. Sei perder.
A orquestra com todos os instrumentos violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, flautas, flautins, oboés, clarinetes, clarinete, trompetes, trombones reinavam com repertório primoroso.
Até boleros intercalaram a sambas, twist, Chá chá chá, para ninguém botar defeito, embaralhando paixões, quando lindo como um deus grego, se acercou tímido abriu a mão, no sincopado da melodia, cautelosamente, abraçou - me junto ao seu corpo, madrugada a fora. Como diria Tolstoi
‘“Confesso que foi uma diversão excelente à tempestade do meu coração.” só permitida aos privilegiados, raras ocasiões ou coração distraído.
Costumo dizer, que os amores verdadeiros são eternos, imperecíveis. Assim foi. Segunda paixão inusitada. Prenha de vida e esperanças percorremos quilômetros de noites na praça, de horas de papo infindáveis no Parque Guinle nas Laranjeiras - bairro bucólico da cidade maravilhosa. Como cúmplice o verde das árvores ao cair da tarde, o farfalhar das folhas, vivemos um grande amor.
Atirei o amor ao vento, mergulhei no dever, e fui à luta. Sem explicações, desculpas. Cada um faz suas escolhas.
Interessante, o movimento de rotação e translação, os reencontros acontecem dia menos pensado.
Chegava de um colóquio em Roma. Um chat do Facebook estava repleto de "Porquês"
- Por onde anda você?
- Responde?
- Quem será você????
- Não puedo creerlo? - Quase meio século sem um sinal de fumaça. Lutei, passei 10 anos no exílio, voltei. Coisas da vida. Tempos modernos, não fossem as redes sociais, muito provavelmente não o encontraria de novo. Amo o mundo moderno. Mac’s, celulares, mil ferramentas para encontrar amigos, amores, que fomos deixando em alguma esquina do passado.
Tantas vezes lembrado em noitadas em Miramar, aonde deslizava o passado, desfrutando a escuridão, remoendo os neurônios em busca do verso sufocado, beijada pela brisa que vinha do mar, a voz de Lourdes a vizinha do andar abaixo cantando todas as canções de Maysa. A fantástica Maysa, que deixara para trás uma das maiores fortunas do Brasil, para concretizar um sonho -cantar a vida, ao amor, a dor, a paixão.
Quantas vezes tentei nas estrelas acima da linha do equador um brilho diferente. Juanita, doce, curiosa, confidente, amiga, quase centenária. Insistia ter meu coração gavetinhas, onde cada amor guardei a sete chaves, que por vezes escapuliram na sodade imensa de um verde País, sufocando -me em lágrimas. Joana perdia horas ouvindo casos de amores, de amigos, das turmas de Laranjeiras, da garota de cabelo à lá Twiggy, dos companheiros, das lutas, da felicidade de estar na Ilha, da dolorida falta da Portela.
Muitas noites pós exaustivo dia de trabalho, do trânsito na hora rush, do stress, das conquistas, dos problemas típicos dos cotidianos tecnológicos, da saudade ao revés da sucessão dos dias, ligo o computador converso, trocando links de canções que dizem muito, que contam muito, da gostosa enxaqueca musical, harmonizadas num portunhol proposital, encontramos veios que explicam porque, era sábado, mas não apareci.
Nossos projetos de vida eram diferentes. Um queria a vida convencional, a outra queria mudar o mundo.
Depois de longos papos, menos ou mais, consigo desencarrilhar o trem de um passado que não deu certo, sigo caminho ao futuro empilhado de deveres apontando as setas do bug do milênio: fome, miséria, o capital destruindo tudo. O mar ainda não virou sertão - como cantou Sérgio Ricardo em "Deus e o Diabo na terra do sol"de Glauber Rocha. Falta muito, muito….
https://www.youtube.com/watch?v=3dJs1YLjPaU