Rua Visconde de Pirajá, 550 - Rio de Janeiro
Para Dr. Bruno Celoria
Que classe de luz!Vontade de permanecer ali, de curtir cada ruela a do queijo da Serra da Estrela no Príncipe Real, na véspera do regresso, de perder o olhar no Tejo confundindo-se com o Atlântico palco de tantas histórias. Viver é um ir e vir de intermináveis surpresas.
O Brasil misto da nostalgia dos fados, do cantar sofrido de alegrar senzalas, do batuque dos yorubás continente diverso dentro do continente sul - americano , o ocidente profundo é minha próxima parada.
Calor de quarenta e sete graus marcava o relógio quando aterrissamos no Rio de Janeiro, afogada em tarefas urgentes. O carnaval aportou antes da hora, mil blocos, muita alegria, muito amor, muita adrenalina. Um explosão de sons, de gentes celebrando a felicidade. Perder a Banda de Ipanema nem de longe - a saudade do Albino Pinheiro, que teve coragem de enfrentar a ditadura e sair em Ipanema para denunciar nosso país violentado - sempre bate forte na paradinha da esquina da Joana Angélica com a Visconde de Pirajá numa homenagem ao eterno Pixinguinha, que faleceu em pleno carnaval.
Carinhoso ... invade Ipanema.
Qual o quê. Um resfriado me pegou de jeito. Não teve blocos, não teve Banda, não teve carnaval. A Portela não foi campeã.
Sem solução. Melhor dar um pulo para ver o Dr. Bruno Celória dar uma examinada. Na China aumentava a epidemia de um vírus desconhecido.
Exames, mil perguntas, radiografias por se acaso.
- Tudo certo.
- Olhou feliz, sorrindo. Medo só se você adoecer de verdade, e.. eu não souber o que fazer.
Dr. Bruno Céloria - jovem médico de uma dedicação fantástica. Adoro seu jeito calmo, sua competência, seu interesse, sua ternura. Faz dez anos nos conhecemos em meio a uma febre arrasadora, calafrios, coração em disparada.
- Enfermeira por favor: paracetamol, exame de sangue e hidratação.
- Não quero.
- Como não quer?
Exame de sangue, e soro aceito. Comprimido não.
- Calma. O que você toma?
- Limão com sal para a febre.
-Como limão com sal? De onde tirou isto?
- Ensinou-me um Guineanao quando tive dengue no exílio.
Dez anos, nos conhecemos, Com ele aprendi a ter 70 anos no terceiro milênio.
Dia seguinte, sério, via whatsaap, recomenda. A partir de hoje, 12/02/2020, nada de rua, cinema, visitar amigos, receber para um vinho ou cafezinho. Nada mesmo, até segunda ordem. Quarentena. Isolamento social. De acordo.
Claro. Que passou?
Pandemia - uma mutação do coronavírus - COVID19 contagia o mundo. Nada a fazer. Evitar o contágio é ordem mundial.
Mas, Bruno!
_ Sem , mais Bruno. FIQUE EM CASA!
Faz 26 dias, do primeiro susto, da tomada de consciência, do novo calendário, do acerto na agenda, de novos projetos, da leitura postergada, de juntar a tantos outros, adequar a vida a um novo ritmo focando os dias na solidariedade. Dias de tristeza com tantas mortes e contagiados. Dias de alegria porque esperança segundo diz o ditado é a ultima que morre.
Não podemos mudar o curso do vento, mas podemos sim ajustas as velas.