Entre Capim Limão e Brachiárias
Cheguei uma hora antes. Coisas de
engenharia de trânsito. Sair na hora viável atrasa, se antes corre o risco de
adiantar tanto como uma hora de antecedência, por exemplo. Assim foi. Evaldo
sai da sala e depara comigo adiantadissssssssima. Um abraço feliz, perguntas
sobre a família, esposa. O corriqueiro agradável.
- Aqui de volta. Faz um ano de toda aquela
loucura. Hora de novos exames - brinquei
- Certo – argumentou tranquilo. O calor está
insuportável. Não chove, a plantação padece. O capim fica todo calcinado, o
gado sofre.
- No interior também a seca está castigando
dessa maneira?
- E, como? Sorte minha ter um caseiro boa gente,
preocupado cuidadoso, que aprendeu a importância da terra, da preservação da
água, do cuidado com o solo. Da necessidade de alternar o capim para fertilizar
a terra. Errei algumas vezes, mas apostei na solidariedade. Mulher e sete
filhos.
Tomei como meta três situações: preservar um
pedaço da mata atlântica, dar educação aos sete filhos do casal, todos hoje
empregados com seus negócios próprios exceto o mais velho que decidiu ficar conosco.
Todos casados, com filhos e nós cheios de netos.
Atenta aprendi sobre gados, iogurte puro com a
medida certa de B12, Embrapa e suas pesquisas exitosas, homens do campo
alfabetizados, formas e tipos de capins, fontes puras ainda preservadas neste Brasil
que esquecemos que existe. Como o terreno tem uma pequena inclinação plantamos
vários tipos de braquiárias apropriada para o gado.
- E, o capim gordura? Meu único conhecido,
provavelmente pelo estranho nome.
-Foi sendo substituído pelas braquiárias -
explicou.
Brachiárias
Pena! Pensei no capim de um verde claro que engalanam as estradas que dão à
histórica Tiradentes, e apelidamos verde limão capim da estrada. Será que darão
lugar as braquiárias?
-Que? Perguntou Evaldo.
- Nada. Nada.
Encontrou algo? – pergunto sem ansiedade.
Nada. Vamos fazer os exames de rotina. Estes
completam a nossa tranquilidade. Dr. Evaldo cuida a mulher com o mesmo carinho
que preserva a terra, salva vidas com dedicação e muito conhecimento. Como a
Embrapa pesquisa os segredos dos males que sufocam as alegrias.
Regressando, Eduardo e eu decidimos caminhar,
afinal o que é um Km numa tarde de verão depois de ouvir tudo que anseio na
vida. O homem ajudando ao homem vencer suas dificuldades, contribuindo com o
que está a seu alcance por aquele mundo que sonhamos.
Dr. Evaldo é mastologista. Criou no Andaraí, bairro do subúrbio carioca – um Centro de excelência para os terminais oncológicos. Carinho puro. O paciente recebe seus familiares, toma os remédios para as dores, vive em família até quem sabe. Parte
Companheiro de Partidos dos Caramez, especiais amigos, fui a seu consultório decidida a tirar os nove fora. Uma mamografia revelava um nódulo na mama direita. Investigamos, alguns positivos outros negativos. Operação marcada pós retorno cirurgião de Houston. Biopsia negada, sem anestesia negativo. Fui emburrada. O Ultrassom repetido a pedido do cirurgião indicava um nódulo grau 4.
Paciência. Vamos enfrentar esta a minha maneira. A segunda vez que me diagnosticavam com câncer de mama. Uma em fevereiro de 1984. Erro de leitura que me fez perder todos os quilos. Este no terceiro milênio.
Evaldo é muito simpático como devem ser os médicos que respeitam a vida. Conversamos sobre tudo, politica nacional, internacional,
estórias dos anos 60. Sem mais nem porque disparei: não quero que você me toque. Quero tr6es pedidos de mamografia e ultrassom da mama. Faço depois conversamos. Olhou perplexo sorriu.
- Aqui quem manda é o paciente.
Duas semanas passaram.
Exame de rotina? Perguntou Dra Pilar – espanhola bonita - especialista em mamas. Exames anteriores?
- Deixei no Taxi, dia destes.
Cautelosa, girou quase meia hora a dupla que enfeita, dá vida e adoece por vezes. Com ou sem cura. Incógnita sempre.
- Tudo bem? – pergunta Eduardo o companheiro de vida, de dores, de medos e alegrias.
-Tudo. Bastante densa. Sem novidade.
- E, o nódulo grau 4?
Como anos atrás o mesmo questionamento?
- Como nódulo grau 4?
- Não tire o Gel. Vamos ver outra vez. Estava espantada.
- Asseguro que nada. Nem na mamografia, tampouco na ultra.
- Marilia Guimarães – chamou a recepcionista – Pode entrar.
- Como vão as braquiárias?
- Passei o final de semana no sitio. Estão bonitas. Deu para dar uma boa relaxada da semana exaustiva.
- Tirei dos envelopes todos os exames, ordenei por data. Aí estão.
Leu releu. Fez medições silenciosamente.
Posso examinar. Coloque a bata, para frente.
Suas mãos percorrerão todos os espaços. Axila, de novo mama.
Otimo. Perfeito. Pode levantar.
Abraçou forte, beijou meus cobiçados cabelos brancos.
Ano que vem podemos nos ver. Que tal?
Isto com certeza. Disciplinadamente, todos os junhos faço checkup.
Vez que outra ligo para ele, pedindo um help para um amigo, ou orientação para outro. Sortuda, lucrei um amigo.
Lá se vão dez anos.