Pular para o conteúdo principal

Domingueira poetica

A DISTÂNCIA
- Thales Paradela

- Falta muito?
- Tá chegando...
- Ainda?
- Tá chegando...
- De novo?
- Sempre!

Pela janela do trem, o tempo passa de revés. Relatividade tem de ter sido deduzida num trem de beira do Rio Doce. Muito saculejado na cabeça dá nisso.

- Ainda tá longe?
- Um dia chega...
- É antes ou depois daquele morro?
- É antes do que eu morro...

Trem segue pra lá, rio desce pra cá, tempo corre pronde? E o guardado do tempo, escorre? Cai de lado? Em que margem do rio tenho que estar pra pescar lembrança? Mas se eu trocar de margem, fisgo lembrança de amanhã? O Doce é marron, chuva já foi mas com barro foi cotejando no beiral da encosta, chegou marron no leito. Chuva torna a ser, clara.
Onde fica o bairro recolhido?

- De novo esta curva?
- É outra...
- Como que você sabe se vira igual?
- Não sei, mas a torneira é outra?
- Parece que não sai do lugar, sai?
- Só pra poder voltar...

Dormente de trem parece dormido, mas trilho eu asseguro que é sujeito direito, reto. Leva sempre. Mas trilho tem final? Eles se juntam lá nesse? Tem uns que leva e traz, é só trocar o lado do foguista. Que de eu ir, passei por uma mangueira carregada, aguei. Foi chegar e procurar um pé. Em que pé eu subi? Não é a mesma manga do caminho?
Esse quem plantou? Ou é a mesma, que o tempo plantou. Sei uns que comeram, mas num vi quem plantou. Os de depois terão o de comer?

- Falta muito?
- Só um tempo...
- Tempo nunca é só! Falta.
- Acho até que o tempo é só...
- E chega onde?
- Tá vendo aquele abraço?
- Daqui parece pequeno...
- Pois é ali que chega.
- E qual a distância?
- Um metro depois da saudade!

Posts Mais Lidos

1996 - Direitos Humanos violados no Brasil e no Mundo

Ao longo das últimas décadas, o Brasil assinou uma série de convenções, tratados e declarações que visam a garantir os direitos humanos fundamentais em nosso país. Apesar disso, diariamente, pessoas sofrem por terem seus direitos violados. São humilhadas, maltratadas e, muitas vezes, assassinadas impunemente. Tais fatos repercutem mundialmente, despertando o interesse de diversas organizações não-governamentais, que se preocupam em garantir os direitos acima mencionados, como a Human Rights Watch, que, anualmente, publica uma reportagem sobre a situação dos direitos humanos em diversos países do mundo, e cujos relatos sobre o Brasil, nos anos de 1996 e 1997, serviram de base para o relato exposto a seguir. Relatório em 1996: O ano de 1996, no Brasil, foi marcado por massacres, violência rural e urbana, más condições penitenciárias e impunidade gritante. No dia 19 de abril, em Eldorado dos Carajás, Pará, a Polícia Militar, com ordem para evitar que cerca de duas mil famílias ocupassem

José Ibrahim- um herói do movimento operário

José Ibrahim- um herói do movimento operário 1968 marcou o século XX como o das revoltas - estudantis operárias, feministas, dos negros, ambientalistas, homossexuais. Todos os protestos sociais e mobilização política que agitaram o mundo como a dos estudantes na França, a Primavera de Praga, o massacre dos estudantes na México, a guerra no Vietnã se completam com as movimentos operários e estudantil no nosso pais. Vivíamos os anos de chumbo, o Brasil também precisava de sua primavera. Em Contagem, região industrial da grande Belo Horizonte, Minas Gerais, abriu caminho as grandes greves metalúrgicas coroada pela de 1968 em Osasco - região industrial de São Paulo onde brasileiros de fibra e consciência, miscigenam suas origens e raízes abalizadas pela particularidade brasileira, em plena luta contra a ditadura militar. Jose Ibrahim, 21 anos, eleito para a direção Sindical, jovem, líder por excelência, simplesmente parou todas as fábricas de Osasco, na época pólo central dos movimentos de

Inez Etienne - única sobrevivente da casa da morte em Petrópolis

Única sobrevivente da Casa da Morte, centro de tortura do regime militar em Petrópolis. Responsável depois pela localização da casa e do médico-torturador Amílcar Lobo. Autora do único registro sobre o paradeiro de Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, que comandou Dilma Rousseff nos tempos da VAR-Palmares. Última presa política a ser libertada no Brasil. Aos 69 anos, Inês Etienne Romeu tem muita história para contar. Mas ainda não pode. Vítima há oito anos de um misterioso acidente doméstico, que a deixou com graves limitações neurológicas, ela luta para recuperar a fala. Cinco meses depois de uma cirurgia com Paulo Niemeyer, a voz saiu firme: DIREITOS HUMANOS: Ministra acredita na aprovação da Comissão da Verdade no primeiro semestre deste ano - Vou tomar banho e esperar a doutora Virgínia. Era a primeira frase completa depois de tanto tempo. Foi dita na manhã de quarta-feira, em Niterói, no apartamento onde Inês trava a mais recente batalha de sua vida. Doutora Virgínia é a fis