Dá-me coragem, Senhor
que não habita meu peito
mas cuja ausência, tão plena,
quem sabe me daria alento?
Dá-me coragem para merecer
a poesia de cada dia,
abra meus olhos sem paz,
alumia
e à minha fome dá sustento,
e não sacia.
Senhor, que eu não trema,
que eu não hífen,
que eu não tenha
o alívio e o vício
do covarde silêncio.
Que eu enfrente, Senhor
ausente e frio
o desassossego da assombrada
Estação do Estio,
onde não passa o bonde,
onde a palavra não encontra a melodia
e restam embaralhados todos os trilhos
travados nos desvios.
Abel Silva