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AMORES IMPERECÍVEIS



Suava por todos os poros, que calor insuportável, fevereiro costuma ser mais ameno, fresco até. um pouquinho de frio que sobra do vento norte. A galeria repleta de amigos. Não resta a menor dúvida, as duas são um sucesso - uma na voz e composição a outra no pincel - no sorriso largo, na alegria. A melodia pincela em  tons, semitons multicolorida cordas, contorno saltando das molduras entrelaçam grupos que se abraçavam, sorriam. Tapinhasnos ombos beijocas pululando  face to face.Artistas plásticos de todas as tendências , compositores, músicos, poetas emolduram  a exposição  alimentando  o amor. Amam-se. Querem-se. Curtem, compartilham sentimentos, esbanjam alegrias nestes reencontros.
De repente, dois braços enlaçam minha cintura entre a delicadeza do gesto, o calor da saudade, apertados num tempo sem tempo de espera. Toco as mãos grossas, calejadas pela  criatividade nas litografias que vai além dos métodos tradicionais do desenho sobre pedra, sempre a  usar lâminas e pontas-secas para adicionar textura.  Remontam -me àquelas mãos que durante décadas tocou as minhas, que vi rodopiar sobre a pedra deixando gravadas espetaculares formas de corpos, rostos, formas abstratas. Uma década sem tocá-las, sem aquele perfume  embebido da química que nos uniu por alguns anos, entre campari, Hatuei e muitas doses de tragos beirando 12 anos.
Fomos girando em câmera lenta ao encontro do sorriso. Onde? Como ficamos perdidos? Um no sul maravilha o outro chegando ao Caribe. Reencontro, ou sequencia do que ficou estancado no tempo sem perder o frescor do primeiro encontro. Noite de tambores, cavaquinhos, violões sete cordas  saída do gingado da Beth Carvalho, Paulinho da Viola, um Martinho gostoso de se dançar, batidas de coração compassada no ritmo certeiro e aquele olhar envolvido num sorriso negro estupidamente lindo caiu nas graças de menina que entrava na era das formosas balzaquianas. Domingos, muitos domingos foram certezas que nada nos separaria, nem as lindas francesas, alemãs ou suecas exuberantes de passagem tirassem do foco aquelas mãos, tampouco as  tardes no atelier da praça. Da galeria à festa a continuidade da cumplicidade em anos de vivência chegou a madrugada.A sequência de encontros se dava todas as tardes pós trabalho intenso, porque a vida impõe tarefas inadiáveis a serem cumpridas com data e hora de entrega. Faz parte, para  o toque que joga com seus sentidos entre o céu e o mar, entre sol e estrelas. Reencontros não são fugazes, são perpetuados. Amores que marcaram lençóis, cravaram flechas, deixaram tatuagem são inesquecíveis.
Habitamos tempos de entrega. Vivemos tempos de guerras cruéis e amargas. Esperança, desesperanças. Valeu e muito. Neruda, testemunha ideal entre o ir e vir, abençoados pelas ondas que bordeam a murada. Num sábado, sem Vinicius,  e, porque era sábado  o inevitável - a morte chega num rompante leva  tudo sem autorização, sem despedida. Falta claro, que faz.Sento relembrando o poeta em dias de angústia tomo um café no Bar Neruda, olhando o mar, converso com as estrelas como se louca fosse, igual a Bilac e sorrio para o oceano infinito . No horizonte, o por de sol vai deitando seus raios avermelhados na rotação do planeta  levando  um montão de doses de saudade.

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