Pular para o conteúdo principal

Se o samba tivesse uma forma humana seria Dona Ivone Lara - Nelson Sargento

A mesma caminhada suave de trinta anos atrás percorria o tapete vermelho do salão nobre da Assembléia Legislativa em direção a tribuna quando deparou comigo .O mesmo sorriso doce e a mesma voz.
-Oi querida quanto tempo não nos vemos – falou baixinho enquanto eu lhe beijava a fronte.
- Que saudade – sussurrei embora soubesse que estava atrapalhando a entrada. Os grandes sentimentos quebram tabus, protocolos, e muitas coisas mais.
Dona Ivone Lara era a homenageada do dia. Majestosa, linda, tranqüila, segura embora os anos tenham tirado a pisada firme de tempos atrás. Não importa. O que conta é o que levamos dentro escondido nos recantos penetráveis de nossas lembranças.
O chegada do exílio era muito recente. Recomeçar a vida. Começar do zero mais difícil do que imaginava. Os meninos adolescentes resistiam adaptar-se a cruel realidade de um capitalismo agressivo, da pobreza caída nas calçadas dos melhores bairros da cidade, da falta de ética dos professores no tratamento com dois meninos filhos de uma pátria amada, adorada mesmo, sonhada, idealizada. Da dificuldade de reencontrar amigos, a espera de um inesperado encontro que mudasse tudo. E, mudou. Fui trabalhar um mês pós meu regresso com Albino Pinheiro – o boêmio conhecedor de cada refúgio da cidade maravilhosa, do melhor chopp , o criador da Banda de Ipanema em pleno anos de chumbo , resposta aos cruéis ditadores. No Seis e Meia do teatro João Caetano,em 1980, reencontrei minha patriazinha como versejou Vinicius de Moraes num dos mais belos poemas a esta terra. Foi na canção, eterna companheira de todos os momentos que voltei a viver o Brasil.
Foi na cadencia do samba, nas canções e carinho Dona Ivone Lara, na ternura de Martinho da Vila, nos papos pelas tarde com Nelson Cavaquinho, muitas vezes acompanhando de Nelson Sargento , nas rabugices de Jamelão ou na doçura de Nana Caymmi, na presença de Paulo Moura, reunidos aos companheiros que chegavam trazendo no peito a mesma ansiedade que fomos recuperando nossa energia participando outra vez de greves – madrinha dos funcionários da Ciferal - freqüentando assembléias nos sindicatos do metalúrgicos, dando aquele pulinho demorado no PDT – (se o Governo Chagas descobre to na Rua)....
Clarissa Garotinho - hoje deputada estadual das mais votada – numa homenagem fantástica regada a bateria do Império entrega a dama do samba o diploma de Cidadã Benemérita do Estado do Rio de Janeiro, àquela que define a força da mulher brasileira: enfermeira, mãe, 1ª. Compositora de sambas enredo, negra, educadora. A emoção transcendeu todos os limites.
Obrigada Dona Ivone Lara. E, quem disse que vamos um dia esquecer este 07 de junho de 2011.

Posts Mais Lidos

1996 - Direitos Humanos violados no Brasil e no Mundo

Ao longo das últimas décadas, o Brasil assinou uma série de convenções, tratados e declarações que visam a garantir os direitos humanos fundamentais em nosso país. Apesar disso, diariamente, pessoas sofrem por terem seus direitos violados. São humilhadas, maltratadas e, muitas vezes, assassinadas impunemente. Tais fatos repercutem mundialmente, despertando o interesse de diversas organizações não-governamentais, que se preocupam em garantir os direitos acima mencionados, como a Human Rights Watch, que, anualmente, publica uma reportagem sobre a situação dos direitos humanos em diversos países do mundo, e cujos relatos sobre o Brasil, nos anos de 1996 e 1997, serviram de base para o relato exposto a seguir. Relatório em 1996: O ano de 1996, no Brasil, foi marcado por massacres, violência rural e urbana, más condições penitenciárias e impunidade gritante. No dia 19 de abril, em Eldorado dos Carajás, Pará, a Polícia Militar, com ordem para evitar que cerca de duas mil famílias ocupassem

José Ibrahim- um herói do movimento operário

José Ibrahim- um herói do movimento operário 1968 marcou o século XX como o das revoltas - estudantis operárias, feministas, dos negros, ambientalistas, homossexuais. Todos os protestos sociais e mobilização política que agitaram o mundo como a dos estudantes na França, a Primavera de Praga, o massacre dos estudantes na México, a guerra no Vietnã se completam com as movimentos operários e estudantil no nosso pais. Vivíamos os anos de chumbo, o Brasil também precisava de sua primavera. Em Contagem, região industrial da grande Belo Horizonte, Minas Gerais, abriu caminho as grandes greves metalúrgicas coroada pela de 1968 em Osasco - região industrial de São Paulo onde brasileiros de fibra e consciência, miscigenam suas origens e raízes abalizadas pela particularidade brasileira, em plena luta contra a ditadura militar. Jose Ibrahim, 21 anos, eleito para a direção Sindical, jovem, líder por excelência, simplesmente parou todas as fábricas de Osasco, na época pólo central dos movimentos de

Inez Etienne - única sobrevivente da casa da morte em Petrópolis

Única sobrevivente da Casa da Morte, centro de tortura do regime militar em Petrópolis. Responsável depois pela localização da casa e do médico-torturador Amílcar Lobo. Autora do único registro sobre o paradeiro de Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, que comandou Dilma Rousseff nos tempos da VAR-Palmares. Última presa política a ser libertada no Brasil. Aos 69 anos, Inês Etienne Romeu tem muita história para contar. Mas ainda não pode. Vítima há oito anos de um misterioso acidente doméstico, que a deixou com graves limitações neurológicas, ela luta para recuperar a fala. Cinco meses depois de uma cirurgia com Paulo Niemeyer, a voz saiu firme: DIREITOS HUMANOS: Ministra acredita na aprovação da Comissão da Verdade no primeiro semestre deste ano - Vou tomar banho e esperar a doutora Virgínia. Era a primeira frase completa depois de tanto tempo. Foi dita na manhã de quarta-feira, em Niterói, no apartamento onde Inês trava a mais recente batalha de sua vida. Doutora Virgínia é a fis