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NIEMEYER NAO E DEZ, E CEM

A Arquitetura era apenas razão,
frieza matemática originando formas,
um monte de ferragens criando ferrugem,
montadas em pedra dura.
Oscar Niemeyer desarmou o cimento armado.
Ao concreto frio, ele deu brandura,
emoção,
curvas.

Quando Brasília virou uma ilha
cercada de coturnos
e tiranos soturnos,
quiseram fazer dele a bola da vez,
mas sua importância na história da cultura
seria maior que a ditadura
reles e obscura.

Niemeyer é o Pelé da prancheta.
Fez da prancheta a sua bola de couro,
espalhou sua arte por todo o planeta,
New York, Oxford, Paris, Argel,
Niterói, Portugal, Israel,
Havana, Beagá,
Bagdá,
Teerã,
et cetera,
e o diabo a quatro.
Ganhou honrarias e medalhas de ouro.

Não fosse o humanista,
além do grande artista
que é,
encheria as burras de dinheiro,
como um desses ricaços tolos
com a boca torta de fumar cachimbo.

Era outro seu compromisso.

Em vez disso,
fez escolas
com Darcy e Brizola,
fez sala de aula pra menino aprender,
fez passarela para o povo sambar.

Um Oscar para o Oscar?
Bobagem.
O prêmio não estaria à altura
do personagem.
E além do mais,
filme que ganha Oscar é quase sempre muito,
muito chato.

Um Nobel para Niemeyer?
Ideia falaz.
Essa instituição está desmoralizada,
desde que fez a mancada
de dar ao Kissinger o Prêmio Nobel da Paz!

Oscar Niemeyer para a Academia?
Sem essa!
Que ironia!
Ele não precisa dessa
para ser Imortal.
Já é. Na real!

Parabéns, Arquiteto,
ao completar seus 103,
sempre íntegro, lúcido, trabalhador.



MANO MELO

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