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Hoje, eu ouço as canções que você fez pra mim

Na quinta avenida, quase chegando a Calle 60 tem uma livraria excelente. Por vezes caio por lá. Fora os bons livros que sempre vem parar na minha biblioteca tem a Lurdes - a vendedora linda, de um charme irresistível conhecedora de todas as literaturas, de paso falando três a quatro idiomas. Atende a todos que é um luxo só. Como conhece, e já leu tudo é o requinte para quem busca um livro especial. Assim foi aquele, sábado. As crianças brincavam, necessitava um novo livro, Noel viria bem mais tarde. Andava ensaiando por ai, quando remexendo uma prateleira ouvi um sotaque diferente.
Lurdes e eu cruzamos os olhares curiosas com as preciosidades fonéticas ao lado. Sem hesitar perguntei?
- De onde são ?
- Angolanos, cabo verdianos e congoleses – respondeu o deus africano.
- Muito tempo por aqui?
- Uma semana. Mais ou menos e você?
- Dois, quase três.
- Brasileira?
- Hum hummmmm.
- Nós estudantes.
Entre dialetos, saudades, Brasil, mar e ilha Roberto Carlos invadiu o recinto. Pouco sabia de Roberto, ou melhor o que sabia não me interessava. Sou geração buarqueneana, Tabacaria, Carlos Lyra, Nara Leão, Maria Bethania, e de fossa mesmo a gata de olhos verdes arrebentando corações – a doce Maysa.
Desnecessário maiores explicações ficamos amigos e com eles entrava Roberto no meu AP da Calle Tercera chegado da África ardente e glamorosa.
Violão a postos Edgard dedilhou e sua voz exótica extravasou paredes, mergulhou nas ondas que batem suave logo depois da varanda, submergiu no fim de tarde, para muitos anos inclusive ontem absorver meus pensamentos. Aprendi quase todas entre uma partida de buracão, e outra, por muitos e longos fins de semana em Miramar.
... Hoje, eu ouço as canções que você fez pra mim
Não sei por que razão tudo mudou assim
Ficaram as canções e você não ficou
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais
É tão difícil olhar o mundo e ver
O que ainda existe
Pois sem você meu mundo é diferente
Minha alegria é triste
Quantas vezes você disse que me amava tanto
Tantas vezes eu enxuguei o seu pranto
E agora eu choro so sem ter voce aqui.

Por vezes, chorei quisas de saudade. Roberto Carlos continua azul. Canta bonito, emociona as vezes, desvenda geracoes. Amados, amantes, rebeldes, centrados, num espetaculo certinho. Bem estruturado, bonito mesmo, roteiro quase impecavel. Sempre vale desde que seja um Roberto mais Brasil.
Sigo buarqueneana, trovadoresca, mezclando a America numa efusao de sons que vao de um Juan Baglieto a Patricio Anabalon, um Silvio Rodriguez, eternamente moderno, da voz que suplanta o belo de um Pablo Milanez, despenco fácil num Fito Paes e relaxei feliz na alegria, na voz gostosa de Paula Fernandes – a sertaneja alegre como ela só tocando as mãos de Roberto vez por outra, ou apavorada diante da multidão que reverencia o Rei ou num gesto mesmo de ternura.
A noite de ontem valeu para duas coisas. Roberto é o compositor interprete do amor ao amor, ganhou o mundo rompeu fronteiras e continua a encantar as multidões.
O toque original da festa foi sem duvida nosso Prefeito tocando na bateria da Beija – flor feliz como ele só, carioca da gema esbanjando alegria. Só mesmo o Rio de Janeiro, nos da estas gratas surpresas.
Ano que vem Eduardo se Copacabana emoldurar as notas musicais no 25 de dezembro poe um pouco de América na nossa cadência .
26/12/2010

Lurdes, ja nao esta na livraria, se fue a una galaxia. Edgard anda desparecido, mas se alguem encontrar peca para ele entrar no Face ou no twitter

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